domingo, 21 de agosto de 2011

MEDITAÇÃO E ÊXTASE



Meditar é, por certo, a faculdade mais preciosa que possuímos como seres humanos, pois é a única via para que alcancemos graus superiores de êxtase. O êxtase pode ser definido como o terceiro estado da consciência, uma forma de percepção tão definida quanto o sono, o sonho e o estado de vigília. É um estado que tem suas próprias leis; quando o sentimos sabemos, sem dúvida, que estamos ali.
O êxtase se caracteriza por produzir uma sensação de vivência absoluta. De repente, todas as dualidades que dão conteúdo à mente fundem-se em uma percepção direta da unidade. É uma ruptura interpretativa, uma viajem da consciência para além do ego, ao reino do não-tempo, onde as leis da matéria se anulam restando apenas um estremecimento de prazer que se funde com o infinito. É o transe dos Xamãs, o Samadhi dos yogas, a vivencia do Reina entre os cristãos e a Teowatia dos toltecas.
A função do êxtase para a consciência é equilibrar a esmagadora dualidade que geram em nós a alternância de dormir e despertar. As crianças penetram neste reino com frequência; todas as crianças sabem, apesar de não poderem expressar, aquilo que os adultos levam longos anos para compreender: que a realidade do mundo não é radicada pelo que vemos, e sim pelo ato de ver.
Na generalidade dos casos, podemos atingir o êxtase unicamente através dos breves instantes em que desfrutamos de um orgasmo. Tamanha é a força deste momento que a maioria dos humanos e animais passam a vida inteira a procura dele. Um orgasmo é a entrada ao Tamoanchan através do centro vital de Kolotl, situado na base da coluna vertebral. Esta porém, não é a única entrada; um artista sabe que também se pode alcançar o estado extático com o centro do coração, e sabe que este tipo de experiência é notavelmente mais intensa e satisfatória que a entrega sexual.
Acima de tudo, o êxtase é um estado natural, os meditadores se propõe a alcança-lo com todos e cada um dos nossos centros vitais, vivenciando experiências que, do ponto de vista humano, só podemos qualificar de divinas. Este estado amplia de tal maneira nossa base de experiências que nossa visão de mundo é inevitavelmente alterada. Os relatos dos livros sagrados, como a Bíblia, os Vedas ou o Popol Vuh, deixam de ser mitos caprichosos e se transformam em guias evidentes para o manejo da consciência. Ao mesmo tempo, a mente se liberta de toda superstição, os sonhos se enchem de cores e existir se torna uma aventura permanente, impregnada de excitantes possibilidades.
Dentro de Kinam, o objeto da meditação não é simplesmente obter prazerosas experiências (apesar disto ser, por si só, um motivo apreciável), mas sim algo muito mais refinado. Sucede que os instantes de êxtase se acumulam e vão criando uma continuidade paralela a nossa história pessoal, que poderíamos interpretar como nosso duplo extático. A partir de certo ponto, essa acumulação se cristaliza, o duplo toma vida própria e nos libertamos de vez da omniosa sujeição ao ego. Visto que tudo o que morre, quando morremos, é o ego, se pode dizer que o êxtase é a porta de acesso à imortalidade.

Autor: Frank Díaz (tradução livre)

A Meditação e o Sistema Autônomo

O sistema nervoso autônomo é uma bem conhecida divisão do sistema nervoso central; envolve os processos involuntários do corpo como a regulagem da pressão sanguínea e controle dos movimentos peristálticos e cardíacos. Pode ser considerado um mecanismo regulador mais instintivo – um que compartilhamos com muitos animais que não têm nossos centros corticais superiores. Uma de suas qualidades é executar funções sem que percebamos.
            A respiração é o melhor exemplo de uma função com enervação dual: nossa respiração pode ser totalmente consciente ou totalmente inconsciente. No primeiro caso os nervos voluntários fazem as coisas funcionarem, no segundo, o sistema autônomo transporta os impulsos. Assim, a importância do controle da respiração reside no fato de ser esta uma função em que as duas trajetórias motoras estão em perfeito equilíbrio potencial. Nas palavras do Lama Anagarika Govinda em Foundations of Tibetan Mysticism:

O resultado mais importante da prática de anapana-sati, ou “consciência da respiração”, é perceber que o processo da respiração é o elo entre o consciente e o subconsciente (...) funções voluntárias e não-voluntárias, e, portanto, a expressão mais pefeita da natureza de toda a vida. Os exercícios que levam a estados mais profundos da meditação (...) começam, portanto, com a observação e a regulação da respiração, que destarte é convertida em função automática ou não-voluntária em voluntária e, por fim, num canal de forças espirituais. (...)
A respiração é a chave para o mistério da vida, tanto para a do corpo quanto para a do espírito.(...)

            O fato de o sistema nervoso autônomo executar funções sem que as percebamos levou muitas pessoas a concluir que o sistema nervoso autônomo não possui conexões diretas com a consciência, o que é incorreto: que respostas autônomas podem ser trazidas ao controle voluntário, há muito é sabido dos praticantes da meditação, especialmente os estudantes de ioga. Os adeptos da ioga podem suspender a respiração por longos intervalos, efetuar mudanças drásticas na pulsação e circulação, e demonstrar que nossas funções internas não estão além do controle da consciência. Os textos da ioga costumam ser vagos sobre como obter este tipo de controle (muita informação é transmitida oralmente de guru para discípulo), mas de qualquer pesquisa da literatura oriental derivam três pistas: a primeira é que todos estes feitos exigem relaxamento, concentração e prática. A segunda é que a respiração é a chave de todo o sistema. A terceira é que o primeiro passo para adquirir o controle de uma resposta automática é ter consciência dela.
            A importância do controle da respiração reside no fato de ser esta uma função em que as duas trajetórias motoras estão em perfeito equilíbrio potencial. A teoria por detrás da ioga e outros sistemas de respiração disciplinada é que ritmos regulares produzidos pelas trajetórias voluntárias eventualmente serão captados pela trajetória involuntária, e, estabelecida esta correspondência por intermédio da função respiratória, ela se propaga naturalmente para as outras funções involuntárias de pulsação, circulação e assim por diante. É significativo que todos os sistemas orientais e muitos dos ocidentais de prática espiritual dêem grande importância ao controle da respiração, e que também as palavras espírito e respiração sejam idênticas em muitas línguas indo-européias (incluindo o sânscrito prana, o hebreu ruach, o grego pneuma e o latim spiritus).
            Além disso os bem conhecidos experimentos envolvendo a hipnose também ilustram este princípio: se um paciente num transe profundo é tocado por um dedo que se diz a ele ser um metal em brasa, uma bolha vai surgir no ponto de contato. A bolha é real. É produzida pela enervação autônoma dos vasos sanguíneos superficiais. E este canal entre a mente e o corpo está totalmente aberto sempre que entramos num estado alterado de consciência que focalize nossa consciência em algo que mais nosso ego e nosso intelecto.
            Comprovou-se que ao se eliminar a tensão aumenta-se a resistência do organismo. Essencialmente, a meditação parece produzir um estado fisiológico de profundo relaxamento, junto a um estado mental desperto e altamente alerta, provocando mudanças fisiológicas que ativam as defesas naturais do organismo. O padrão das reações fisiológicas à meditação é diferente do padrão da reação à hipnose ou ao sono. Há uma tendência para a diminuição no metabolismo e no ritmo cardíaco e respiratório, há uma redução da pulsação cardíaca (podendo chegar a três batidas por minuto) e uma diminuição na velocidade e volume da respiração além de redução da taxa de utilização do oxigênio e de produção do dióxido de carbono. Há também queda dos níveis de lactato, associado à ansiedade e tensão. A resistência da pele aumenta em até 400% e o padrão das ondas cerebrais se altera de ondas beta (presentes no estado de vigília) para ondas alfas lentas.
À medida que a meditação se desenrola, seu corpo absorverá a luz vital do prana ou sutil energia eletromagnética. Este prana ou força vital é necessário para manter vivo o corpo etérico; este último deve impregnar e estimular a vida celular do corpo físico.     A meditação sobre a respiração permite harmonizar o espírito e as emoções com os ritmos do metabolismo fisiológico que evoluiu durante milhões de anos.
            Você obterá resultados semelhantes e igualmente poderosos se observar o ritmo das batidas do coração, ao mesmo tempo meditando sobre o centro psíquico do coração. Por meio do ritmo das batidas do coração, assim como pela respiração, podemos nos por em harmonia com os ritmos interiores das células do corpo e também com o fluxo rítmico no corpo da energia espiritual do prana.
            Quando as funções do homem se harmonizam perfeitamente entre si, em todos os níveis – físico, etérico, astral, mental e espiritual – e quando se harmonizam com os ritmos do cosmo, ele pode atingir a iluminação, pois se torna o instrumento perfeito da força infinita do Atman único e sempre presente.
Fontes: - AndreW Weil. Drogas e Estados Superiores da Consciência. Ed. Groud. 1990.
             - MANDALA, A Experiência Alucinógena – antologia. Textos escolhidos pela equipe de redação de MANDALA. Reunidos e apresentados por J. C. Bailly e J. P. Guimard. Ed. Civilização Brasileira 1972.
            - Lawrence Lê Shan. Meditação Transcendental / How To Meditate. Ed. Record. 1974.

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