sábado, 3 de dezembro de 2011

ESTADOS ALTERADOS DE CONSCIENCIA E SUBSTANCIAS PSICOATIVAS

          Segundo Andrew Weil o uso de drogas para alterar a conciência tem sido característica da humanidade em todas as épocas e lugares da terra. Para o autor a onipresença do fenômeno é um argumento relativo a estarmos tratando de uma característica biológica da espécie, e não com algo embasado social ou culturalmente. Alterar a consciência é, portanto, uma característica inata da espécie humana da mesma forma que a fome e o sexo, tal instinto se manifesta em idades demasiado jovens: crianças em torno dos 4 anos se engajam extensivamente em atividades objetivando alterar a consciência de vigília como rodopiar em torno do mesmo eixo: atividade que surge espontaneamente nas crianças de diferentes culturas e partes do mundo.
            Todos os povos de diferentes épocas gastaram muito tempo e energia desenvolvendo meios de alterar a consciência, entre eles a meditação, a yoga, o jejum e uso ritualístico de plantas, fungos ou animais contendo substâncias psicoativas como a psilocibina, a mescalina, o DMT dentre outras.

Ipomea violacea; Psilocybe cubensis; Salvia divnorum; Pyllomedusa bicolor: fontes naturais de substancias psicoativas.

            Nas sociedades arcaicas de todas as épocas tais plantas psicoativas detém caráter divino, fazem parte de seus sistemas de crença estando associadas aos Deuses e presentes em suas narrativas mitológicas. Em tais sociedades é o Xamã ou curandeiro quem detém o maior conhecimento e domínio destas plantas; o Xamã detém inúmeras funções: é artista, médico, teórico da informação, pesquisador experimental da natureza, meteorologista, futurólogo e agente planejador de sua tribo.
            O uso de plantas psicoativas para a indução de estados alterados de consciência é uma parte importante do treinamento e iniciação do jovem Xamã e se dá em contexto ritualístico, junto a invocações, danças e psicodrama. A partir das experiências proporcionadas por estas plantas e poções o xamã em formação vivencia uma vasta gama de experiências que podem envolver viagens à diferentes mundos e dimensões, encontro e comunicação com Deuses, ancestrais e espíritos animais, ter a experiência de ver seu corpo desmembrado, cozido ou ter seus órgãos substituídos por pedras preciosas, dentre outros.


            As fontes naturais de substâncias psicoativas também são utilizadas no tratamento de enfermidades de todos os membros da tribo. Quando uma pessoa está enferma passa por uma sessão ritual junto ao xamã, nesta ocasião o Xamã e/ou o enfermo utilizam da substância e ambos buscam a causa e a cura da moléstia. Em estado alterado o xamã pode visitar mundos de onde resgata a alma do doente, pode ainda receber fórmulas medicinais dos deuses, ou guiar oferendas para aplacar os deuses e a enfermidade. Esta é uma prática arcaica que sobrevive até os dias atuais nas tribos ainda existentes.
            Terence Mckenna em seu livro O Alimento dos Deuses traça uma linha histórica relacionando os acontecimentos mundiais à presença ou escassez de substâncias psicoativas. Segundo ele o inicio da civilização humana é marcado por uma simbiose entre o homem e o cogumelo existindo inúmeras evidências arqueológicas para este fato como por exemplo o culto universal à uma “Deusa Mãe de Chifres”. A vaca e outros animais bovinos – de cujo esterco nascem cogumelos psicoativos – estão presentes nas mitologias de muitos povos e na índia ainda é considerada um animal sagrado.

Terence Mckenna
        
       Esta simbiose se desfaz no momento em que as condições climáticas não mais permitem a reprodução do fungo. O cogumelo é então gradativamente substituído pelo álcool, gerando modelos dominadores e masculinos de sociedade em contraste com o modelo igualitário, centrado na natureza e no feminino existente anteriormente.
            O modelo dominador persiste na maior parte do mundo atual, fora reforçado durante a chegada dos portugueses à América quando surgiu na Europa uma demanda por novas sensações: cores de tecidos, temperos, perfumes, sabores. A exploração do açúcar trouxe de volta à humanidade o sistema escravista, anteriormente abolido; surge o café, o chá e o chocolate: drogas que exigem grandes quantidades de açúcar.
            Com a descoberta do LSD ocorre um princípio de retorno a um modelo igualitário de sociedade, marcado pelo surgimento dos hippies e beatnicks que deixaram suas casas formando grupos e sociedades alternativas. No momento histórico atual se desenvolvem tecnologias que possam sanar a necessidade de experimentar estados alterados de consciência que são basicamente as drogas eletrônicas como a T.V. Nos anos 70 a T.V. chegou a ser indicada como uma forma de tratamento para hippies e pessoas desviantes do comportamento social padrão.
            A enorme repressão das substâncias psicodélicas em meados dos anos 70 estagnou por décadas a pesquisa científica séria do potencial terapêutico destas substâncias. Em 2004 universidades dos EUA receberam as primeiras licenças legais para explorar o uso medicinal destas substâncias.
            As pesquisas tem mostrado que estas substâncias são úteis no tratamento de inúmeros distúrbios psíquicos como a depressão, transtorno obsessivo compulsivo, esquizofrenia, stress pós-traumático, dependência química, ansiedade diante da morte em pacientes terminais e síndrome do pânico. Ao contrário dos tratamentos atualmente existentes que levam anos e são pouco eficazes, uma única sessão de terapia com psicodélicos pode ser suficiente no tratamento de um distúrbio psíquico como a depressão. Isto pode gerar um colapso nos lucros da indústria farmacêutica que atualmente oferece um tratamento medicamentoso prolongado e lucrativo para a depressão e outros transtornos.

     LSD; MDMA/Ecstasy; Ketamina; DMT: psicodélicos sintéticos de potencial terapêutico.

         Além disso as substâncias psicodélicas tem se mostrado úteis no tratamento de algumas doenças orgânicas. Pesquisadores estão descobrindo que alterações na molécula de MDMA ou Ecstasy é eficaz no tratamento do câncer. Também descobriu-se que o DOI – substância não-psicodélica derivada da molécula de LSD – é útil no tratamento da cefaléia em salvas, uma doença que causa dores de cabeça tão intensas que alguns enfermos chegam a cometer suicídio para aliviar a dor, o DOI alivia todos os sintomas quando não há nenhum medicamento eficaz no tratamento desta doença. Descobriu-se também que doses diminutas de DOI pode interferir com o sistema imune e a resposta inflamatória abrindo vias inéditas para o tratamento de desordens alérgicas e doenças auto-imunes. As áreas da psicologia, medicina e outras tem se enriquecido com as atuais pesquisas com psicodélicos. O Psiquiatra Tcheco Stanislav Grof, teoriza, a partir de suas pesquisas e dos relatos de experiências com psicodélicos, a existência de duas dimensões importantes da psique: a dimensão perinatal – relacionada ao trauma do nascimento (podem ocorrer visões de guerra, visões sexuais, sensações de morte e estrangulamento, sensações envolvendo excrementos e decomposição) e a dimensão transpessoal – envolvendo experiências além do ego, e do tempo-espaço linear como sensação de estar vivendo em outras épocas e lugares, encontros com seres arquetípicos, divindades e extraterrestres, visões de cenas mitológicas, etc. Grof considera a descoberta do LSD tão importante para a psicologia quanto o microscópio pra a biologia ou o telescópio para a astronomia.

Stanislav Grof

          O Jornalista Científico John Horgan em seu livro A Mente Desconhecida faz um estudo exaustivo da eficácia dos atuais tratamentos oferecidos pela psicologia e das perspectivas da construção de conhecimento nos campos da psicanálise, terapia cognitivo-comportamental, psicologia evolucionista, robótica, neurociências e genética comportamental concluindo que o futuro da área se encontra na pesquisa dos psicodélicos e da consciência.

Fontes:
Andrew Weil. Drogas e Estados Superiores da Consciência. Ground, 1990.
John Cashman. LSD. Perspectiva, 1966.
Experiência Cósmica e Psicose. K. Wapnick e outros. Vozes, 1991
A Mente Desconhecida. John Horgan. Cia das Letras, 2002
A Revolução da Consciência. Francisco DiBiase e Richard Amoroso (organizadores). Vozes, 2004.

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A semente de Cannabis como alimento básico para o mundo!

Em 1937* Ralph Loziers, conselheiro-geral do instituto Nacional de Produ­tos de Óleo de Sementes, declarou ao comitê do Congresso encarregado de estudar a proibição da marijuana: "A semente do cânhamo (...) é usada como alimento em todas as nações orientais e também numa parte da Rússia. É cultivada nos seus campos e servida como papa às refeições. No Oriente, milhões de pessoas usam diariamente sementes de cânhamo como alimento. Fazem-no há muitas gerações, mormente em períodos de fome". Sabemos agora que a semente de cânhamo é a mais rica fonte de vitalizantes ácidos gordos essenciais que existe no reino vegetal, e que nela po­de muito bem residir a cura do cancro e das doenças cardíacas.
A SEMENTE DE CÂNHAMO: O MELHOR RECURSO ALIMENTAR DA HUMANIDADE

Dentre as mais de 3 milhões de plantas comestíveis que crescem na Terra, ne­nhuma outra fonte vegetal se pode com­parar com as sementes de cânhamo em termos de valor nutritivo. Tanto a proteí­na completa como os óleos essenciais contidos nas sementes de cânhamo encontram-se em proporções ideais para a nutrição humana. Apenas as sementes de soja registam um teor proteico mais elevado; porém, a composição das proteí­nas contidas na semente de cânhamo é única no reino vegetal. Sessenta e cinco por cento do conteúdo proteico da se­mente de cânhamo encontra-se na forma da elobulina edestina. (A palavra edestina vem do grego "edestos", significando comestível.)
O teor excepcionalmente elevado em edestina da semente de cânhamo, combi­nado com a albumina, outra proteína globular presente em todas as sementes, significa que a proteína facilmente assi­milável da semente de cânhamo contém todos os aminoácidos essenciais nas pro­porções ideais para que o nosso corpo disponha de todos os componentes ne­cessários à criação das proteínas que combatem as doenças, tais como as imunoglobinas — anticorpos cuja ação é debelar as infecções antes de se insta­larem os sintomas da doença.
A proteína da semente de cânhamo per­mite mesmo que um corpo sofrendo de tuberculose, ou praticamente qualquer outra enfermidade bloqueadora da nutri­ção, consiga a nutrição máxima.*
* Cohen e Stillman, Therapeutic Potential of Marijuana, Plenum Press, NI, 1976; Estudo Checo Nutricional sobre a Tuberculose, 1955.

domingo, 9 de outubro de 2011

Pesquisa aponta o Álcool como a droga mais nociva!


O álcool é uma droga mais perigosa do que o crack e a heroína, quando são levados em conta os danos causados aos usuários e a terceiros, disseram cientistas britânicos essa semana.

Apresentando uma nova escala relacionada aos danos para os usuários e para a sociedade, o álcool aparece como a droga mais nociva, quase três vezes mais perniciosa do que a cocaína e o tabaco.
Segundo essa escala, a heroína e o crack são a segunda e a terceira drogas mais nocivas.

David Nutt, presidente do Comitê Científico Independente para Drogas da Grã-Bretanha, que participou do trabalho publicado na revista Lancet, disse que as conclusões mostram que “tratar agressivamente os danos do álcool é uma estratégia válida e necessária de saúde pública”.
Ele afirmou também que a nova escala mostra que as classificações dadas às drogas têm pouca relação com os danos causados.

O álcool e o tabaco, por exemplo, são legais para os adultos na maioria dos países, enquanto drogas como ecstasy, maconha e LSD costumam ser ilegais.

“É intrigante notar que as duas drogas legais avaliadas – álcool e tabaco – aparecem no segmento superior do ranking, indicando que as drogas legais causam pelo menos tanto dano quanto as substâncias ilegais”, disse Nutt em nota.

Há um ano, o pesquisador foi obrigado a deixar a direção do influente Conselho Consultivo sobre o Abuso de Drogas por ter criticado ministros por ignorarem as evidências científicas de que a maconha faz menos mal que o álcool.

A Organização Mundial da Saúde estima que os riscos associados ao álcool – acidentes, doenças do coração e fígado, suicídios e câncer – causem 2,5 milhões de mortes por ano, ou 3,8 por cento do total. Seria o terceiro principal fator de risco para mortes prematuras e incapacitações em nível global.
Na nova escala, os danos para o usuário incluem mortes causadas direta ou indiretamente pelas drogas, além de dependência e perda de relacionamentos. Os danos para os demais incluem criminalidade, dano ambiental, conflitos familiares, danos internacionais, custos econômicos e prejuízos à coesão comunitária.

Numa escala de 0 a 100, o álcool aparece com 72 pontos, seguido pela heroína (55) e o crack (54). Algumas outras drogas avaliadas foram as metanfetaminas (33), cocaína (27), tabaco (26), anfetaminas (23), maconha (20), benzodiazepinoicos (como Valium) (15), ketamina (15), metadona (14), mefedrona (13), ecstasy (9), esteroides anabolizantes (9), LSD (7) e cogumelos alucinógenos (5). Com informações da Reuters.

domingo, 28 de agosto de 2011

A BUSCA DA ESPIRITUALIDADE

O Cristianismo

As distorções, ate certo ponto intencionais, da cultura cristã dominante também convergem para distúrbios: baseiam-se em um Deus autoritário e puritano que nega a condição humana ou parte dela, que está acima de nos, vendo tudo o que fazemos e censurando o tempo todo com riscos de purgatório e inferno para quem “erra”. A castidade, o celibato obrigatório para religiosos, bem como afirmações condenatórias do tipo “sexo por prazer é pecado”, aludindo ao fato de termos intimidade com quem amamos sem pretender ter filhos todas as vezes, reforçam a separação entre sexo e espiritualidade. E o que dizer da mulher não poder ser sacerdote ou ainda ter de se espelhar numa virgem, mãe de Deus, que concebeu através do Espírito Santo!? Não se questiona aqui a existência de Nossa Senhora, ou de sua virgindade, apenas denunciam-se aberrações desumanas neste modelo de santidade, impossível de ser seguido sem consequências adversas. As características específicas de cada um deveriam ser opcionais, e o fato de vivermos como humanos não deveria gerar culpas nem nos negar o direito à santidade ou à espiritualidade.
A imagem de Jesus, na maioria das vezes, mostra seu corpo ferido, sangrando e sofrendo numa cruz com coroas de espinhos e olhos tristes. Reforça que o sofrimento nos eleva – o que é interessante para governos ou autoridades que nos massacram-, porque, se os massacrados acreditarem que Deus os recompensará no céu e que quanto mais sofrerem aqui melhor, mais escravizados tornar-se-ão a serviço dos seus senhores iníquos.
Todos nos sabemos que o sofrimento não é a forma mais adequada de crescermos, muito embora a única coisa que possamos fazer quando sofremos seja aprender, mas isso cabe á vida como um todo, não só ao sofrimento. Qual a criança que apresenta mais dificuldade na escola: aquela cujos pais estão em harmonia e a amam, ou a cujos pais estão em conflito e a rejeitam? Não precisamos de sofrimento para aprender. Nós sempre damos mais importância para a dor que para a alegria, o que se fundamenta, dentre outros, em dois aspectos distintos: o primeiro, mais coletivo, relacionado ao nosso culto ao sofrimento, inclusive na imagem de Jesus, e o segundo no fato de os pais darem muito mais atenção para as crianças quando estão doentes ou quando caíram e se machucaram. Por essas e outras razões, quando nos acontece uma coisa ruim em meio a dez coisas boas, obscurecemos as boas e sofremos absurdamente as ruins.

A busca da Espiritualidade


Não queremos desvalorizar os aspectos salutares da cultura cristã, tampouco afirmar que outras culturas sejam mais adequadas. Da mesma forma que para um budista, por exemplo, parece inconcebível que os cristãos cultuem um “moribundo”, para os cristãos parece estranho cultuar alguém com as pernas “tramadas” ou “preguiçosamente acomodado”, como se vê as imagens de Buda. Todas as culturas possuem aspectos saudáveis e doentios; tudo depende da forma como cada um interpreta os ensinamentos das doutrinas respectivas.
No que tange a influências construtivas do aspecto coletivo, merece especial destaque a busca da espiritualidade, da saúde, e da felicidade que de uma ou outra forma sempre estiveram presentes nos caminhos da humanidade e que hoje se apresentam em nossa mente como símbolos importantes para nosso equilíbrio. Relacionada a esse mesmo processo está a tendência inconsciente que sempre nos leva a crescer e a ser melhores, importante inclusive para ser resgatada em qualquer tratamento ou crescimento interior como uma importante aliada.
Texto do terapeuta Ivan Pinto

domingo, 21 de agosto de 2011

ÊCSTASY PODE SER USADO PARA TRATAR CÂNCER

LONDRES — Cientistas da Grã-Bretanha revelaram esta sexta-feira que estão avaliando se o ecstasy, conhecido como a droga do amor e popularizado em festas de música eletrônica, as chamadas 'raves', pode ser eficaz no tratamento de cânceres no sangue.

Cientistas da Universidade de Birmingham, no centro da Inglaterra, afirmaram ter modificado formas da droga, intensificando em 100 vezes sua capacidade de destruir células cancerosas.

Seis anos atrás, os pesquisadores descobriram que os cânceres que afetam os glóbulos brancos do sangue parecem responder a certas drogas "psicotrópicas". Entre elas estão pílulas de emagrecimento, antidepressivos da família do Prozac e derivados da anfetamina como o MDMA, conhecido popularmente como ecstasy.

Os cientistas afirmaram que as descobertas feitas desde então podem levar ao uso de derivados de MDMA em testes com humanos.

Os derivados podem ser eficazes no tratamento de cânceres do sangue, como leucemia, linfoma e mieloma.

"Este é um animador avanço no uso de uma forma modificada de MDMA para ajudar pessoas que sofrem de câncer no sangue", disse o professor John Gordon, da Escola de Imunologia e Infecção da universidade inglesa.

"Embora não queiramos dar às pessoas falsas esperanças, os resultados desta pesquisa demonstram o potencial para avanços nos tratamentos nos próximos anos", acrescentou.

A equipe de cientistas descobriu que a dose de MDMA requerida para tratar um tumor poderia ser fatal, portanto, trabalhou no isolamento das propriedades anticancerígenas da droga.

Agora, eles estão estudando formas de conseguir que moléculas de MDMA penetrem nas paredes das células cancerosas mais facilmente.

O doutor David Grant, diretor científico da instituição beneficente Pesquisa de Leucemia e Linfoma, que financiou parcialmente o estudo, disse: "a perspectiva de sermos capazes de atacar o câncer no sangue com uma droga derivada do ecstasy é uma proposta genuinamente excitante".

"Muitos tipos de linfoma permanecem difíceis de tratar e necessitamos desesperadamente de drogas não tóxicas que sejam eficazes e tenham poucos efeitos colaterais", acrescentou.

As descobertas foram publicadas na edição bimestral da revista Investigational New Drugs

MEDITAÇÃO E ÊXTASE



Meditar é, por certo, a faculdade mais preciosa que possuímos como seres humanos, pois é a única via para que alcancemos graus superiores de êxtase. O êxtase pode ser definido como o terceiro estado da consciência, uma forma de percepção tão definida quanto o sono, o sonho e o estado de vigília. É um estado que tem suas próprias leis; quando o sentimos sabemos, sem dúvida, que estamos ali.
O êxtase se caracteriza por produzir uma sensação de vivência absoluta. De repente, todas as dualidades que dão conteúdo à mente fundem-se em uma percepção direta da unidade. É uma ruptura interpretativa, uma viajem da consciência para além do ego, ao reino do não-tempo, onde as leis da matéria se anulam restando apenas um estremecimento de prazer que se funde com o infinito. É o transe dos Xamãs, o Samadhi dos yogas, a vivencia do Reina entre os cristãos e a Teowatia dos toltecas.
A função do êxtase para a consciência é equilibrar a esmagadora dualidade que geram em nós a alternância de dormir e despertar. As crianças penetram neste reino com frequência; todas as crianças sabem, apesar de não poderem expressar, aquilo que os adultos levam longos anos para compreender: que a realidade do mundo não é radicada pelo que vemos, e sim pelo ato de ver.
Na generalidade dos casos, podemos atingir o êxtase unicamente através dos breves instantes em que desfrutamos de um orgasmo. Tamanha é a força deste momento que a maioria dos humanos e animais passam a vida inteira a procura dele. Um orgasmo é a entrada ao Tamoanchan através do centro vital de Kolotl, situado na base da coluna vertebral. Esta porém, não é a única entrada; um artista sabe que também se pode alcançar o estado extático com o centro do coração, e sabe que este tipo de experiência é notavelmente mais intensa e satisfatória que a entrega sexual.
Acima de tudo, o êxtase é um estado natural, os meditadores se propõe a alcança-lo com todos e cada um dos nossos centros vitais, vivenciando experiências que, do ponto de vista humano, só podemos qualificar de divinas. Este estado amplia de tal maneira nossa base de experiências que nossa visão de mundo é inevitavelmente alterada. Os relatos dos livros sagrados, como a Bíblia, os Vedas ou o Popol Vuh, deixam de ser mitos caprichosos e se transformam em guias evidentes para o manejo da consciência. Ao mesmo tempo, a mente se liberta de toda superstição, os sonhos se enchem de cores e existir se torna uma aventura permanente, impregnada de excitantes possibilidades.
Dentro de Kinam, o objeto da meditação não é simplesmente obter prazerosas experiências (apesar disto ser, por si só, um motivo apreciável), mas sim algo muito mais refinado. Sucede que os instantes de êxtase se acumulam e vão criando uma continuidade paralela a nossa história pessoal, que poderíamos interpretar como nosso duplo extático. A partir de certo ponto, essa acumulação se cristaliza, o duplo toma vida própria e nos libertamos de vez da omniosa sujeição ao ego. Visto que tudo o que morre, quando morremos, é o ego, se pode dizer que o êxtase é a porta de acesso à imortalidade.

Autor: Frank Díaz (tradução livre)

A Meditação e o Sistema Autônomo

O sistema nervoso autônomo é uma bem conhecida divisão do sistema nervoso central; envolve os processos involuntários do corpo como a regulagem da pressão sanguínea e controle dos movimentos peristálticos e cardíacos. Pode ser considerado um mecanismo regulador mais instintivo – um que compartilhamos com muitos animais que não têm nossos centros corticais superiores. Uma de suas qualidades é executar funções sem que percebamos.
            A respiração é o melhor exemplo de uma função com enervação dual: nossa respiração pode ser totalmente consciente ou totalmente inconsciente. No primeiro caso os nervos voluntários fazem as coisas funcionarem, no segundo, o sistema autônomo transporta os impulsos. Assim, a importância do controle da respiração reside no fato de ser esta uma função em que as duas trajetórias motoras estão em perfeito equilíbrio potencial. Nas palavras do Lama Anagarika Govinda em Foundations of Tibetan Mysticism:

O resultado mais importante da prática de anapana-sati, ou “consciência da respiração”, é perceber que o processo da respiração é o elo entre o consciente e o subconsciente (...) funções voluntárias e não-voluntárias, e, portanto, a expressão mais pefeita da natureza de toda a vida. Os exercícios que levam a estados mais profundos da meditação (...) começam, portanto, com a observação e a regulação da respiração, que destarte é convertida em função automática ou não-voluntária em voluntária e, por fim, num canal de forças espirituais. (...)
A respiração é a chave para o mistério da vida, tanto para a do corpo quanto para a do espírito.(...)

            O fato de o sistema nervoso autônomo executar funções sem que as percebamos levou muitas pessoas a concluir que o sistema nervoso autônomo não possui conexões diretas com a consciência, o que é incorreto: que respostas autônomas podem ser trazidas ao controle voluntário, há muito é sabido dos praticantes da meditação, especialmente os estudantes de ioga. Os adeptos da ioga podem suspender a respiração por longos intervalos, efetuar mudanças drásticas na pulsação e circulação, e demonstrar que nossas funções internas não estão além do controle da consciência. Os textos da ioga costumam ser vagos sobre como obter este tipo de controle (muita informação é transmitida oralmente de guru para discípulo), mas de qualquer pesquisa da literatura oriental derivam três pistas: a primeira é que todos estes feitos exigem relaxamento, concentração e prática. A segunda é que a respiração é a chave de todo o sistema. A terceira é que o primeiro passo para adquirir o controle de uma resposta automática é ter consciência dela.
            A importância do controle da respiração reside no fato de ser esta uma função em que as duas trajetórias motoras estão em perfeito equilíbrio potencial. A teoria por detrás da ioga e outros sistemas de respiração disciplinada é que ritmos regulares produzidos pelas trajetórias voluntárias eventualmente serão captados pela trajetória involuntária, e, estabelecida esta correspondência por intermédio da função respiratória, ela se propaga naturalmente para as outras funções involuntárias de pulsação, circulação e assim por diante. É significativo que todos os sistemas orientais e muitos dos ocidentais de prática espiritual dêem grande importância ao controle da respiração, e que também as palavras espírito e respiração sejam idênticas em muitas línguas indo-européias (incluindo o sânscrito prana, o hebreu ruach, o grego pneuma e o latim spiritus).
            Além disso os bem conhecidos experimentos envolvendo a hipnose também ilustram este princípio: se um paciente num transe profundo é tocado por um dedo que se diz a ele ser um metal em brasa, uma bolha vai surgir no ponto de contato. A bolha é real. É produzida pela enervação autônoma dos vasos sanguíneos superficiais. E este canal entre a mente e o corpo está totalmente aberto sempre que entramos num estado alterado de consciência que focalize nossa consciência em algo que mais nosso ego e nosso intelecto.
            Comprovou-se que ao se eliminar a tensão aumenta-se a resistência do organismo. Essencialmente, a meditação parece produzir um estado fisiológico de profundo relaxamento, junto a um estado mental desperto e altamente alerta, provocando mudanças fisiológicas que ativam as defesas naturais do organismo. O padrão das reações fisiológicas à meditação é diferente do padrão da reação à hipnose ou ao sono. Há uma tendência para a diminuição no metabolismo e no ritmo cardíaco e respiratório, há uma redução da pulsação cardíaca (podendo chegar a três batidas por minuto) e uma diminuição na velocidade e volume da respiração além de redução da taxa de utilização do oxigênio e de produção do dióxido de carbono. Há também queda dos níveis de lactato, associado à ansiedade e tensão. A resistência da pele aumenta em até 400% e o padrão das ondas cerebrais se altera de ondas beta (presentes no estado de vigília) para ondas alfas lentas.
À medida que a meditação se desenrola, seu corpo absorverá a luz vital do prana ou sutil energia eletromagnética. Este prana ou força vital é necessário para manter vivo o corpo etérico; este último deve impregnar e estimular a vida celular do corpo físico.     A meditação sobre a respiração permite harmonizar o espírito e as emoções com os ritmos do metabolismo fisiológico que evoluiu durante milhões de anos.
            Você obterá resultados semelhantes e igualmente poderosos se observar o ritmo das batidas do coração, ao mesmo tempo meditando sobre o centro psíquico do coração. Por meio do ritmo das batidas do coração, assim como pela respiração, podemos nos por em harmonia com os ritmos interiores das células do corpo e também com o fluxo rítmico no corpo da energia espiritual do prana.
            Quando as funções do homem se harmonizam perfeitamente entre si, em todos os níveis – físico, etérico, astral, mental e espiritual – e quando se harmonizam com os ritmos do cosmo, ele pode atingir a iluminação, pois se torna o instrumento perfeito da força infinita do Atman único e sempre presente.
Fontes: - AndreW Weil. Drogas e Estados Superiores da Consciência. Ed. Groud. 1990.
             - MANDALA, A Experiência Alucinógena – antologia. Textos escolhidos pela equipe de redação de MANDALA. Reunidos e apresentados por J. C. Bailly e J. P. Guimard. Ed. Civilização Brasileira 1972.
            - Lawrence Lê Shan. Meditação Transcendental / How To Meditate. Ed. Record. 1974.

"ALUCINAÇÕES REVELADAS"

retirado de Revista Mente & cérebro, ed. 170, março de 2007

EXPERIENCIA COM COGUMELOS PSILOCYBE CUBENSIS

"Estendi um cobertor, sentei em meu zafu. (Almofada Budista para meditação)
Preparei dois pães com tomate, pimentão, soja e dois cogumelos em cada.
Comecei a mastigar lentamente, sentindo o sabor, observando os pensamentos que me passavam, atentamente. Deixando de lado pensamentos desnecessários e concentrando-se nos cogumelos.
Após comer os dois pães, sentei-me numa postura reta, de olhos fechados centrando minha mente com minha respiração.
Lentamente foi acalmando-se os pensamentos, e entre cada inspiração e expiração foi se abrindo espaço em meu ser, para receber a presença dos cogumelos.
Após alguns minutos, percebi que o efeito estava começando, já estava em êxtase!
Levantei-me calmamente, guardei o cobertor , o zafu, ajeite as coisas, botei musica e deitei em minha cama.
Então de olhos fechados eu sentia!
Cada vez que inspirava e expirava sentia a energia fluir por meu corpo, principalmente na região do estomago (plexo solar) e do coração.
Respirando consciente eu ia me purificando e tornando-se cada vez mais receptível a esta energia.
A energia cósmica.
O êxtase aumentava, um gozo maravilhoso!
Por estar receptível o bastante me jorravam insights;
Respostas para minhas perguntas e aspirações mais intimas.
Compreende-se !
Quando abria os olhos via as cores mais vivas, mais brilhantes...
O sentimento de unificação é inseparável da experiência.
Compreendo realmente que somos todos um!
As teorias se mostram reais.
Ali deitado as vezes até gemendo ao expirar de tão gostoso que é!
De olhos fechados, flutuando pela consciência universal!
Não vi nenhum ser mirabolante, mas senti sem dúvidas que há uma presença nos cogumelos que comunicava-se comigo e conduzia-me!
Tinha bolado um cigarro de maconha e deixado de lado para fumar também durante a experiência.
Diante da presença dos cogumelos, do êxtase em que me encontrava, nem precisaria de outra substância, não fosse a própria presença dos cogumelos que me dizia para fumar.
Levantei-me, sai do meu quarto e fui para fora de casa. Enquanto passava pelos cômodos da casa no escuro , via formas que representavam a energia que fluía pelas partes da casa...
La fora enquanto fumava ia me conectando também com a substância da maconha e ampliando mais a experiência.
Dava risadas, puxava, soltava a fumaça..
Depois voltei para a cama e a musica em meu quarto.
Lembro-me de estar sentado no centro da cama, de olhos fechados enquanto a musica conduzia a energia que conduzia meu corpo.
Eu não me movimentava, deixava a energia me movimentar.
Naquele momento eu não estava ali, eu era o momento.
As vezes levantava-me para urinar, e quando estava urinando parecia estar gozando!
Também percebi que cada vez que urinava o efeito ia diminuindo, indo junto com o xixi.
De olhos abertos via mudanças na percepção visual, mas o melhor era de olhos fechados...
Percebi que as energias mais sutis, se movem circularmente, girando...
Passava por minhas mãos e pés e eles giravam conforme a energia passava..
Compreendo realmente que o plano material é a forma mais densa de energia e o outro extremo, chamado de espiritual, são as formas mais sutis.
Com o passar do tempo ia percebendo que a presença dos cogumelos estava de partida para as estrelas novamente...
A presença me dizia tchau, conduzia meu corpo lentamente, calmamente para eu desligar a musica, apagar as velas etc..
Suavemente ia embora..."


relato da primeira experiencia com cogumelos mágicos do irmão Eduardo Dalbosco - o desenho também é dele!

sábado, 30 de julho de 2011

ESCALA SHULGIN

Segue abaixo um importante texto para aqueles interessados nos efeitos psicoativos de substâncias psicodélicas ou enteogênicas, para químicos profissionais, amadores e, em suma, para psiconautas em geral. Em breve farei uma introdução a tradução, falando quem são estes pesquisadores fundamentais da psiconautica, os Shulgin.
A escala de Shulgin é uma escala simples que mede o efeito subjetivo oriundo do uso de substâncias ditas psicoativas, alucinógenas, psicodélicas ou enteógenas. O sistema foi desenvolvido com fins de pesquisa pelo bioquímico Alexander Shulgin e detalhado em seu livro intitulado PiHKAL(fenetilaminas que eu conheci e amei: uma história de amor química, em tradução livre do título do livro).


Segue abaixo excerto traduzido do livro, sobre os níveis da escala de Shulgin: 

MAIS / MENOS (+/-) O nível e efetividade de um elemento que indica a ação inicial de uma droga. Se uma dose alta produz uma resposta alta, então esta denominação é válida. Se no caso a dosagem elevada não surtir nenhum efeito, então trata-se de um falso positivo.

MAIS UM (+) A droga é certamente bem ativa. O tempo pode ser medido com certa acuidade, mas a natureza dos efeitos da droga ainda não são aparentes.

MAIS DOIS (++) Ambos o tempo e a natureza da ação de uma droga são sem dúvida aparentes. Mas você ainda possui escolha se irá aceitar a aventura, ou continuar com os seus planos diários normais. Os efeitos podem ter grande influência, ou podem ser reprimidos e tomar um papel secundário em relação a outras atividades escolhidas.

 MAIS TRÊS (+++) Não somente o tempo e a natureza da ação de uma droga são bem claras, e ignorar sua ação é impossível de se ignorar. O sujeito está totalmente comprometido na experiência, para o bem ou para o mal.

MAIS QUATRO (++++) Um estado transcendental raro e precioso, que é chamado de "pico da experiência", uma "experiência religiosa", "transformação divina", um "estado de Samādhi" e muitos outros nomes em outras culturas. Ele não tem relação com as medições anteriores da intensidade da droga. É um estado de conexão com o mundo interior e exterior, um estado místico e de graça, que provém da ingestão de uma substância psicodélica, sendo algo que pode não se repetir após a ingestão da mesma substância. Se uma droga (ou técnica ou processo) fosse descoberta e esta pudesse produzir de forma consistente uma experiência mais quatro em todos os seres humanos, é possível afirmar que este poderia assinalara evolução final, e talvez o fim do experimento humano.

— Alexander Shulgin, PiHKAL, 1991


Uso


A escala de Shulgin é comumente utilizada em conjunto com mais outros componentes, como: a identificação química da substância ingerida, a dosagem, uma descrição narrativa dos efeitos em termos de visões, sensações, e variações durante o decorrer da experiência de cunho emocional, sensorial, mental.

Exemplo de texto narrativo: (com 50ml) Uma intensa experiência. Levo uma hora para atingir um efeito mais três. Os sons das músicas xamânicas ganham uma profundidade e uma emotividade maiores, mandalas e visões do passado começam a aparecer. Ânsia de vômito após 2 horas. Após o fim dos efeitos, ficam alguns resquícios de vultos periféricos na visão.

 Referências

 Shulgin, Alexander (1991), PIHKAL: A Chemical Love Story, Berkeley,
 CA: Transform Press, ISBN 978-0-9630096-0-9
retirado de

sábado, 16 de julho de 2011

ARTE, LOUCURA E SURTOS PSICÓTICOS !

      A capacidade do artista em mergulhar ao inconsciente faz com que se associe a manifestação artística com certa dose de loucura. Loucura é um termo que adquire sentido metafórico na linguagem popular: louco é o inspirado. Logo, todo artista e todo gênio seriam loucos, pois são pessoas inspiradas.
      Essa poetização da loucura não admite degradação, ignorando-a. Faz parte do imaginário popular ignorar a materialidade do artista: ele pode ser pobre e também louco, ter crises, depressões, euforias, castigar o corpo com drogas ou inanição. Sua materialidade física desaparece perto da materialidade da obra. Assim o público mitifica o artista e o vê como um ser à parte da humanidade.
      O fato de existirem artistas com sintomas de loucura, ou doentes mentais considerados artistas, não prova a que ambos estejam necessariamente associados; pelo contrário, tendem a se repelir. Um trabalho artístico de coerência e continuidade demanda a colaboração de um ego que esteja estruturado em sua identidade e inserção no mundo e tenha confiança em seus recursos internos, podendo dispor deles. Que alguns artistas o sejam, mesmo sob a condição de desordem mental, indica a magnífica pujança da criatividade destes, que não se esgota com a fixação e a restrição provenientes da loucura.
      Existem artistas cujo sofrimento psíquico insuportável esgota a obra, outros conseguem suportá-lo e mantêm a criatividade; ha aqueles que o superam e o transcendem, renovando-se; e também existem as crises de desequilíbrio psíquico que se alternam com um diálogo mais ou menos coerente entre o ego e inconsciente.
      Resta a questão sobre se há, no fazer artístico ou no processo criador algum componente que favoreceria o eclodir de uma psicose. E ainda uma outra, correlata: se a arte, ainda que benéfica e necessária à humanidade, sacrificaria o artista, sofredor dos males, de sua missão.
      Alem dos problemas de aceitação em termos de cultura e de mercado, existe o sofrimento interior da entrega, sem o qual não seria possível criar. Ocorre uma ativação de conteúdos inconscientes, intensa e constante. O ego e a persona (adaptação ao mundo exterior) são deixados de lado e a sombra (o reprimido) e o inconsciente mais profundo (anima/animus) geralmente predominam na primeira etapa de produção. Nesse momento o risco de ser invadio pelos complexos autônomos e pela constelação arquetípica (temas inconscientes fundamentais da psique) é bastante grande.
      Aquilo que a personalidade não resolveu, que teme enfrentar, recebe um ‘alto-falante’ interno. Ou seja, a fonte de criatividade é também fonte de tensão e de conflito, de regressão inconsciente. O artista é de certa forma um filtro para a cultura, assinalando seus movimentos e entraves e, assim, está mais exposto às tensões do inconsciente com sua constante dinamização de conteúdos.
      Para produzir, ele deve ser capaz de sair dessa imersão e de aliar o inconsciente ao consciente, à capacidade egóica de discriminação e separação; em suma, “obrar”. Jung denomina função transcendente a que une consciente e inconsciente, sendo o símbolo seu instrumento principal. O artista também encontra sua cura na capacidade simbólica, mas o percurso que tem de atravessar até chegar à ela pode oferecer riscos de desestruturação psíquica.
      Jung descreve os complexos autônomos da anima e do animus como personificações particularmente ativadas nos processos criativos. Apesar de não se subjugarem à vontade consciente, tais complexos somente se tornam patológicos quando a fixação ocorre. Eles trazem manifestações do inconsciente profundo que podem ser integradas à consciência, transformando-se em processos de natureza intuitiva e possibilitando a formação de símbolos.
      Se, de um lado, eles prenunciam o encontro e a plenitude, de outro, evocam o medo do vazio, da perda de referenciais seguros, do esquecimento e do desamparo. Sentimentos de desorientação e de infindável falta ameaçam o ego desprotegido. Por isso a criatividade exige confiança na entrega interior, na crença de que o ego não se perderá no mar do inconsciente.
      O artista é um criador que deixa transparecer em sua obra símbolos que atingem quem os observa, participantes da mesma viajem. Capta mensagens coletivas, que possuem mais força que as jorradas do inconsciente, a exemplo do que ocorre na psicose. Nesta, falta justamente a capacidade essencial da transcendência, da união de elementos opostos e de sua reorganização significante.
      Desse modo, a arte pode cumprir a função de transformadora de consciência e apaziguadora ou instigadora do inconsciente, conforme a necessidade ou desvio grupal. O poder da arte nesse sentido é reconhecido e muitas vezes usado perigosamente em propaganda institucional ou política, como nos governos comunistas e fascistas. Mas, habitualmente, a obra artística nos dá a oportunidade de ativar imagens de assombro e de encantamento. Talvez, sem ela, nossa espécie não sobrevivesse. Se não podemos alcançar a felicidade, tão efêmera e volátil, podemos apreciar, até nos momentos de sofrimento, algo de beleza produzida pelo ser humano a nos trazer uma brisa de alento.

retirado de Revista Mente & Cérebro edição especial: Jung: volume 2. Duetto editorial, 2009.

sábado, 9 de julho de 2011

Ciência Psicodélica no Século XXI

Psicodélico – Termo cunhado pelo psiquiatra britânico Humphry Osmond, em carta ao escritor e amigo Aldous Huxley, unindo os termos gregos “ψυχή” (psyche, mind) e “δήλος” (delos, manifesting), resultando em “Que manifesta a mente”
Por eduardo schenberg |
Eles estão de volta à bancada. Depois do uso disseminado pelas massas beatniks e hippies nos anos 60 nos EUA e da forte repressão que se seguiu em todo o mundo, os psicodélicos finalmente reencontraram seu rumo médico-científico, que sofreu muito mais com a proibição do que o uso ilegal por artistas, músicos, psiconautas, curandeiros, xamãs e aventureiros em geral. A escalada científica das substâncias encabeçadas pelo LSD, provavelmente a molécula mais famosa do mundo, fica evidente se examinarmos apenas alguns acontecimentos marcantes da primeira década do admirável século novo: os simpósios psicodélicos que rolaram em Basel, na Suíça; em 2006 comemorando o centenário de Albert Hofmann, pai do LSD e identificador da psilocina e psilocibina, e novamente em 2008, ano em que Hofmann faleceu aos 102 anos. Esta escalada conta também com a publicação de dois artigos surpreendentes pela equipe do pesquisador Roland Griffiths (Johns Hopkins) mostrando que a experiência controlada com psilocibina é capaz de evocar experiências místicas que mudam por completo a vida dos voluntários (Psychopharmacology, 2006 vol. 187 p. 268) e cujos efeitos puderam ser estatisticamente verificados em um estudo com os mesmos sujeitos 14 meses após a experiência com o princípio ativo dos cogumelos mágicos (Journal of Psychopharmacology, 2008 vol. 22 p. 621). Nada que os hippies, beatniks, curandeiros, xamãs e psiconautas não soubessem há décadas (em alguns casos até séculos). Este resultado também já havia sido demontrado em Harvard no início dos anos 60, na famosa tese de doutorado em religião defendida por Walther Pahnke, antes da polêmica expulsão de Tim Leary e Richard Alpert (Ram Dass), que viria a catapultá-los como pais da contracultura psicodélica nos anos seguintes. Ainda assim, re-evidenciar o fato (re-search) com os mais rigorosos e criteriosos métodos da chamada ciência hard-core moderna e publicá-los em revistas de alto impacto é pra chacoalhar mesmo os mais materialistas e reducionistas da área. Pra quem gosta de acompanhar assuntos quando estes chegam ao topo, os psicodélicos já estão lá: no fim de 2009 saiu, pela primeira vez em décadas, um artigo publicado na Science com a palavra “hallucinogen”: a identificação do receptor Sigma-1 como alvo do DMT (Science, 2009 vol. 323 p. 934), princípio ativo de diversas plantas xamânicas da amazônia, sendo a principal uma das duas que formam a combinação conhecida como ayahuasca, ou yagé.


Mas não é só isso. A neurociência que se prepare. Os tempos de abrir a cabeça estão apenas começando. A escalada psicodélica nos laboratórios, básicos e clínicos, consagrou-se no mês de Abril de 2010 na Califórnia, berço do movimento contra-cultura dos anos 60. Foi entre os dias 15 e 18 que a MAPS, Associação Multidisciplinar para Estudos Psicodélicos, conseguiu reunir em San José, próximo de São Francisco, cerca de mil interessados no ramo, de várias partes do mundo. A chegada no congresso já deixava claro que se tratava de um evento ímpar. Hippies de roupas bizarras e cabelos coloridos, dreads e tatuagens dividiam espaço nos auditórios e nos ambientes a céu aberto com pesquisadores engravatados, estudantes, repórteres, médicos e muita gente descontraída. A conferência foi co-organizada pelas instituições parceiras da MAPS: o Conselho sobre Práticas Espirituais (CSP), o Heffter Research Institute e a Beckeley Foundation.
Coquetel de abertura da conferência "Ciência psicodélica no século XXI"

O congresso contou com mais de 90 palestrantes apresentando toda sorte de experimentos e propostas em três salas simultaneamente. Dentre as atrações principais pode-se destacar a presença de Charles Grob (UCLA), pioneiro no estudo do uso de psicodélicos para aliviar o sofrimento de pacientes que se aproximam, de fato, da morte; o trabalho de Michael Mithoefer com MDMA (o princípio ativo do ecstasy), que já se encontra em fase clínica II com autorização da FDA americana; a presença do bioquímico David Nichols (Purdue University, Heffter Research Institute), uma das principais figuras da pesquisa psicodélica em todos os tempos; o médico criador e propagador da medicina integrativa Andrew Weil (University of Arizona) e o encerramento feito pelo psiquiatra tcheco Stanislav Grof (California Institute of Integral Studies – CIIS), chamado de o poderoso-chefão da psicodelia por ninguém menos que o próprio Hofmann. Também chamaram atenção os pioneiros da área que estiveram presentes: Ralph Metzner, James Fadiman e Ram Dass (por problemas de saúde, apenas em vídeo-conferência que lotou duas salas e o jardim); o casal de rogue-chemists Alexander “Sasha” Shulgin e sua esposa Ann Shulgin (autores de PIHKAL e TIHKAL) bem como os expositores do Erowid e o artista transcendental Alex Grey, que estreiou um quadro em jantar beneficente em homenagem aos Shulgins.

The Shulgin's and Their Alchemical Angels
The Shulgin's and Their Alchemical Angels

As novidades apresentadas foram várias, e vale destacar o trabalho brasileiro na chamada Ayahuasca Track, que dominou uma das três salas do evento. Coordenada pela antropóloga brasileira Beatriz Labate, a aya track ganhou muita atenção e contou com palestra de dois brasileiros: Luís Fernando Tófoli (Universidade Federal do Ceará, União do Vegetal) e Paulo Cesar Ribeiro Barbosa (Universidade Estadual de Santa Cruz), bem como do colaborador americano Brian Anderson (Stanford University) e vários estrangeiros interessados no assunto. Foram abordados os aspectos psicológicos, fenomenológicos, simbólicos e até experimentos recentes com EEG e planos de experimentos com fMRI, a acontecerem em breve. Tomados coletivamente, os resultados mostram de forma inequívoca que a ayahuasca é segura, mesmo quando consumida de maneira regular por muitos e muitos anos, não causando danos a saúde e melhorando indicadores de saúde psicológica individual, coletiva e de relações sociais e familiares, na grande maioria dos casos. A excessão fica aos casos de antecedentes psicóticos e propensão a distúrbios mentais, nos quais o chá pode desencadear surtos psiquiátricos latentes.

O evento deixou claro, assim como os últimos artigos publicados e a dúzia (pelo menos) que está no prelo, que a ciência psicodélica está aí para ficar. Longe da abordagem inconsequente do uso maciço e indiscriminado de tempos passados, a idéia agora está mais consciente e madura. De acordo com Rick Doblin, presidente e fundador da MAPS: “Hoje a cultura é mais aberta e a contracultura mais paciente”.


As principais linhas de pesquisa que já contam com inflorecências são:

-       O uso de MDMA na prática clínica, associado a psicoterapia e acompanhamento psicológico para o tratamento de Transtorno do Estresse Pós-Traumático e Transtorno Obsessivo Compulsivo (PTSD e OCD, nas siglas em inglês). O primeiro artigo foi publicado dia 19 de julho, demonstrando que 80% dos sujeitos com PTSD por uma média de 19 anos tratados com MDMA melhoraram, contra apenas 25% no grupo placebo (J. Psychopharmacol DOI: 10.1177/0269881110378371). O próximo passo será tratar veteranos do Iraque, Afeganistão e Vietnam;

-       O uso de psilocibina em doses adequadas e ambientes controlados para aliviar o sofrimento de pacientes com câncer terminal;

-       O uso de psilocibina para a indução de estados místicos, espirituais e transcendentais (Psychopharmacology, 2006 vol. 187 p. 268, Journal of Psychopharmacology, 2008 vol. 22 p. 621);

-       A descoberta de que doses diminutas (menores do que a dose psicoativa) de DOI, análogo sintético do LSD, podem interferir com o sistema imune e a resposta inflamatória, abrindo avenidas inéditas para tratamento de desordens alérgicas e doenças autoimunes, como há muito tempo é relatado na comunidade psicodélica e outrora desacreditado (J. Pharmacol. Expt. Therapeutics vol. 327 p. 316);

-       O uso de LSD para as mesmas finalidades já testadas com a psilocibina, pesquisa que atualmente encontra-se em fase inicial com o trabalho de Peter Gasser, MD, na Suíça

A abordagem adotada até o momento é de evitar as áreas e substâncias mais polêmicas, como é o caso do LSD e os estudos sobre psicodélicos e consciência. Evita-se assim atiçar os setores mais conservadores da sociedade, que poderiam propor novas ofensivas proibicionistas. Esta estratégia permite evitar também confrontos diretos com a poderosa malha articulada da indústria farmacêutica. O motivo é simples: a MAPS é uma fundação sem fins lucrativos (assim como as instituições co-organizadoras) e as drogas psicodélicas são off-patent. Ou seja, nenhuma empresa possui nem pode requerer patente destas substâncias. Assim sendo, tratamentos eficazes com estas moléculas ou plantas/cogumelos poderiam representar uma ameaça ao lucro das farmacêuticas, caso venha a ser demonstrado, por exemplo, que umas poucas doses de determinado psicodélico durante algumas semanas trate a depressão, uma das doenças que mais gera lucros nos tempos atuais e cujo tratamento é extremamente prolongado. Se por um lado a promessa é de tratamentos baratos e disponíveis a todos, por outro o desinteresse da indústria causa dificuldades de arrecadar fundos, sendo doações a estas instituições sempre bem vindas. Mantendo foco em doenças raras ou sem tratamento corrente, foi encontrado, com ajuda crucial de ativismo por parte dos próprios pacientes, que os cogumelos psiclocibe são extremamente eficazes no tratamento das cluster-headaches, uma condição que mais se assemelha a convulsões do que a dores de cabeça como a maioria de nós conhece. A doença não tem outro tratamento conhecido, sendo que alguns pacientes chegam a cometer suicídio para encerrar o tormento…

Se já não bastasse estar sendo comprovado que os psicodélicos possuem de fato diversos potenciais clínico-terapêuticos e baixo risco e toxicidade quando usados de maneira apropriada, as pesquisas começam a trazer a tona àquilo que os hippies enxergaram há décadas. Os resultados de fato prometem uma revolução, tanto conceitual nas neurociências como na prática clínica e na sociedade em geral.

Os estudos farmacológicos com psicodélicos têm como principal entrave não mais o proibicionismo, como pode-se observar pelo crescente número de laboratórios e pesquisadores que obtiveram licensas governamentais em variados países (EUA, Suíça, Israel, Alemanha…), mas sim os paradigmas kuhnianos vigentes na farmacologia e na clínica médica. Os psicodélicos, de acordo com David Nichols, representam um problema para a farmacologia atual. Em primeiro lugar, porque são substâncias de diversas estruturas químicas, nem sempre semelhantes. As duas principais categorias são as triptaminas (DMT, psilocibina, LSD, etc) e as fenetilaminas (Mescalina etc), substâncias com a menor toxicidade conhecida, estando muito abaixo da maioria das drogas atualmente prescritas na prática clínica (para excelente revisão ver Pharmacology and Therapeutics, 2004 vol. 101 p. 131). Mas existem excessões controversas, como a salvinorina A, princípio ativo da poderosa erva xamânica Salvia divinorum, um ligante opióide. Em segundo lugar, a ação dos psicodélicos, em especial no uso das plantas in natura, desafia a idéia de princípio ativo e de seletividade/afinidade droga-receptor, conceitos importantes e enraizados no pensamento farmacológico corrente. A ayahuasca, por exemplo, combina um inibidor da MAO presente no cipó Banisteriopsis caapi com o DMT presente nas folhas de outra planta, a Psychotria viridis, para ser ativa por via oral. Entretanto, mas também possuem propriedades importantes as harminas e harmalinas presentes no chá. O exemplo de diversidade de ação farmacológica mais extremo provavelmente é o LSD, substância que é psicoativa em diminutas doses, que cabem na ponta dum alfinete (na ordem de microgramas, enquanto a maioria dos agentes conhecidos é efetivo apenas em doses centenas de vezes maiores, de miligramas em diante). O LSD possui seletividade muito baixa, sendo ativo em pelo menos 13 receptores diferentes, incluindo uma grande variedade de serotonérgicos e dopaminérgicos.
David Nichols fala sobre a variedade de receptores aos quais se ligam os psicodélicos

Por fim, já entrando no terreno da prática clínica, os experimentos e terapias psicodélicas desafiam o modelo médico atual do paciente-médico-comprimido-casa. O efeito não se encontra somente na ação farmacológica, mas também no ambiente, nas espectativas, intenções, medos, receios. O que a tempos denomina-se set and setting na cultura psicodélica e que a milênios é praticado seriamente por curandeiros e xamãs, da Sibéria ao Peru. De acordo com Andrew Weil: “Drogas não têm potencial espiritual. Pessoas têm”.

Alguns exemplos talvez ilustrem melhor esta situação: no caso das pesquisas com pacientes próximos da morte, a abordagem com psilocibina não visava o tratamento da doença em si, mas da ansiedade e da perda de qualidade de vida associadas ao processo. Isto vai na contramão da medicina atualmente praticada, que perdeu o foco na saúde e qualidade de vida e desviou-se para o prolongamento da vida a todo custo, por vezes causando mais danos do que oferecendo soluções, como na recusa da sociedade em diversos países em permitir a eutanásia. Isso está tão entranhado em nossa cultura que os pesquisadores tiveram de ser muito delicados e agir cuidadosamente para deixar claro aos pacientes voluntários de que não se tratava de curar o câncer, mas de oferecer uma nova perspectiva perante ao fato e à proximidade da morte.

Na pesquisa básica, os experimentos com os receptores serotonérgicos onde atuam os psicodélicos (principalmente o 5HT2A) revelaram que existe um mecanismo de ação farmacológica hoje conhecido como seletividade funcional (“functional selectivity”), no qual diferentes substâncias, ao se ligarem a um mesmo sítio de um mesmo receptor, podem ativar vias intracelulares distintas. Isto contraria um dos princípios chave da farmacologia moderna, que diz que “um receptor desencadeia uma resposta celular”. De acordo com Dave Nichols, este fato é, por si só, motivo para que se reescrevam todos os livros didáticos de farmacologia.

No que diz respeito às neurociências, os psicodélicos estão disponíveis como ferramentas inigualáveis para o estudo da consciência, permitindo alterá-la de maneira reproduzível e controlada em ambientes de laboratório. Combinado com modernas técnicas de neuroimagem e eletrofisiologia, o ramo promete mudar nossa compreensão do cérebro e, por que não, de nós mesmos?

Eduardo Schenberg é biomédico, mestre em psicofarmacologia e um quase-doutor em neurociências. É um dos fundadores do plantandoconsciência, iniciativa dedicada à catalização de um futuro consciente e sustentável.