



O historiador Sahagún descreve o uso do cogumelo pelos astecas: "a primeira coisa que se comia nesse banquete era um pequeno cogumelo que embriaga e produz visões. Comiam disso antes do amanhecer... com mel, e quando começavam a estar excitados punham-se a dançar. Alguns cantavam, outros choravam, embriagados como estavam por esse cogumelo, e outros não cantavam, mas ficavam sentados em seus aposentos, pensativos. Alguns viam que iam morrer e choravam, outros viam-se devorados por uma fera, outros viam-se a fazer prisioneiros no campo de batalha, ou ainda a enriquecer, ou senhores de numerosos escravos. Outros viam que seriam culpados de adultério e que por esse crime lhes esmagariam a cabeça, outros que cometiam um roubo e seriam mortos, e muitas outras visões ainda. Quando desaparecia a embriaguez causada por esses cogumelos, falavam entre si acerca das visões que haviam tido".
As pesquisas feitas por várias gerações de etnomicólogos permitiram constatar a presença destes fungos em quase todas as regiões do mundo. Disseminados pela américa, Europa e Ásia foram encontradas até 60 espécies todas do gênero psilocybe, que contém proporções variáveis de psilocina e psilocibina, os alcalóides responsáveis pelas propriedades das visões.
Seu uso remete à antiguidade: na América, concretamente, há dados arqueológicos que apóiam as teorias de seu uso sacramental e terapêutico há, pelo menos, três milênios. Estamos, sem dúvida, diante de uma das substâncias visionárias que mais influenciou a cultura humana, responsável, para alguns pela gênese das religiões. A tese de que cogumelos mágicos estão na origem de certas formas de espiritualidade, foi exposta por Robert Graves e Gordon Wasson.
A ingestão destes fungos produz efeitos farmacológicos visíveis depois de meia hora: aumento da temperatura corpórea, avermelhamento cutâneo, alterações visuais e auditivas são os efeitos mais comuns, todos eles semelhantes aos produzidos pelo LSD. a duração da experiência dura de três a seis horas.
As visões são associadas, tradicionalmente, a uma iluminação descrita como sabedoria perfeita. Alguns antropólogos consideram que o paridaeza persa, o dilmun sumério, o paradeisos grego e os édens americanos e polinésios guardam uma grande semelhança, especialmente marcada quando se trata de áreas consumidoras desse tipo de cogumelos. A descrição desses paraísos é similar: são lindos jardins regados por um rio cristalino de quatro embocaduras, com pomares repletos de jóias cintilantes e uma serpente sábia que os habita.
Fontes:
História das Ervas Mágicas e Medicinais. Mar Rey Bueno. Madras editora, 2009.
A vida Quotidiana dos Astecas. Jacques Soustelle. Ed. Itatiaia, 1962.
Nenhum comentário:
Postar um comentário