domingo, 20 de março de 2011

O Instinto de Alterar a Consciência!

Andrew Weil em seu livro Drogas e Estados Superiores da Consciência (um livro revolucionário a meu ver) sugere que o desejo de alterar a consciência periodicamente - seja por meio de substâncias psicotrópicas, pela meditação, danças, jejum ou qualquer outro meio - constitui um impulso inato e normal tão intrínseco quanto o impulso sexual e a fome.

A necessidade de períodos de consciência não-ordinária começa a ser expressa em idades demasiado jovens, reduzindo muito as chances de estarmos lidando com um fenômeno resultante da influência condicionadora do meio: Crianças de três a quatro anos engajam-se extensamente em experiências com estados mentais usualmente no sentido de perder a consciência de vigilia, quem quer que observe crianças pequenas sem ser visto as verá rodopiando sob o mesmo eixo até caírem em estupor (quem não girava ao redor de sí mesmo quando criança atire a primeira pedra!), elas também hiperventilam-se, pressionam o tórax umas das outras e estrangulam-se para produzir inconsciência; muitas ainda decobrem que a zona de transição entre a vigília e o sono oferece muitas oportunidades para sensações inusitadas; as crianças engajam-se nestas experiências longe dos adultos, sempre prontos a reprimi-las e culpá-las.

Tais brincadeiras são observadas nas crianças de todas as culturas ao redor do globo, os psicólogos pouco atenção deram a estas atividades rotulando-as de "equivalentes sexuais" sugerindo que tivessem alguma relação com o orgasmo, uma interpretação reducionista do fenômeno que não amplia nossa capacidade de descrevê-lo, predizê-lo ou influenciá-lo, além do que - diz Weil - "nossa compreensão da experiência sexual é demasiado primitiva para nos ajudar muito".

Além disso a prática de induzir alterações na consciência esteve presente em todas as culturas ao longo da história. Civilizações em diferentes épocas e lugares sempre praticaram algum tipo de estado alterado envolvendo ou não o uso de substancias psicoativas. Todas as civilizações (com excessão dos esquimós) também possuíam seu intoxicante tradicional que era parte de sua cultura, seus ritos e/ou sua espiritualidade. Esta onipresença do fenômeno serve como argumento relativo à estarmos tratando de uma característica biológica da espécie.

A maioria das grandes religiões e pensamentos filosóficos do mundo surgiram em decorrência de estados alterados de consciência por parte de seus fundadores (Gautama, Maomé, São Paulo, Joana D'ark, etc.), também é de se notar que o gênio criativo há muito foi associado à psicose e o gênio intuitivo com o sonhar acordado, a meditação, os sonhos e outros métodos não ordinários de consciência. No Xamanismo as plantas de poder e os estados alterados são elementos essenciais de seu sistema espiritual. É ainda muito provável que as primeiras manifestações de espiritualidade pelo homem tenham tido sua origem nos estados alterados provocado pelo cogumelo Stropharia cubensis, o conhecido "cogumelo mágico"; esta tese foi abordada por autores como Robert Graves, Gordon Wasson, Terence McKenna e Timoth Leary.

Há muita lógica em nascermos com um impulso para experimentarmos outras maneiras de sentir nossas percepções: os estados alterados têm um grande potencial para um desenvolvimento psíquico extremamente positivo: parecem caminhos para um uso mais eficiente de sistema nervoso, para desenvolver faculdades criativas e intelectuais e para atingir certos tipos de pensamento que foram tidos por exaltados por todos os que os experimentaram. Os estados alterados devem ter influenciado profundamente a seleção natural da espécie humana: As faculdades criativas e intelectuais adquiridas atravéz dos estados alterados quando aplicadas ao dia-a-dia aumentariam as chances de sobrevivência, humanos mais criativos e reflexivos teriam muito mais facilidade em se adaptar a seu meio. Assim sendo o cérebro humano em sua atual fisionomia e fisiologiae resulta em parte dos estados alterados atingidos por nossos ancestrais que lhes permitiram sobreviver às turbulências do meio e passar seus genes adiante.

Fontes:
Drogas e Estados Superiores da Consciência. Andrew Weil. Ed. Ground. 1990
História das Ervas Mágicas e Medicinais. Mar Rey Bueno. Madras editora. 2009
O Alimento dos Deuses. Terence McKenna. Ed. Nova Era

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